decisão de suspender o kit contra a homofobia tomada pela presidenta
Dilma Rousseff de forma arbitrária e peremptória. A ação em si já
seria desastrosa, mas tornou-se ainda pior pela forma como os fatos se
precipitaram. A presidenta Dilma desconsiderou todo um trabalho feito
por profissionais qualificados, a avaliação dos segmentos do movimento
social e até mesmo o aval do Ministério da Educação. O comando de
suspender o kit, sem consulta aos setores envolvidos, revela uma
autoridade que beira ao autoritarismo da qual a própria Dilma foi
vítima.
Repudiamos, ainda, as declarações preconceituosas da presidenta
realizada um dia depois da decisão, quando afirma que "não vai ser
permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções
sexuais, nem interferir na vida privada das pessoas", opinião
formulada com base em "um pedaço" de vídeo do kit visto "na
televisão". Não temos certeza de que os vídeos vistos pela presidenta
correspondem àqueles produzidos para o kit, visto que a bancada
evangélica tem utilizado outros vídeos para confundir a opinião
pública. Mas não compactuamos com uma crítica tão rasa, sempre
utilizada pelos homofóbicos de plantão. A orientação sexual não é
definida por "incentivos", nem é um mal que precise ser evitado. O que
seria, para a presidenta, uma "propaganda" da homossexualidade? Ou
então é preciso censurar as novelas, suprimir as capas de revista e
proibir todas as sessões de cinema: a julgar pelos beijos dos casais
de mocinhos, toda a programação cultural faz "propaganda" da
heterossexualidade!
A militância LGBT tem acompanhado as declarações do Planalto com pesar
e preocupação. A presidenta demonstra desconhecimento da agenda dos
direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais. Reforça o combate à homofobia como retórica vazia, para
logo então justificar algum ataque às conquistas concretas desse
segmento. O discurso é alienante, tortuoso e beligerante, como que
preocupado em repassar a idéia de firmeza e autonomia. Ao contrário, a
suposição de que o kit contra a homofobia foi usado como "moeda de
troca" para blindar o ministro Palocci, envolvido em escândalos,
torna-se mais verossímil. E, se isso for fato, perguntamos se nossas
vidas valem tão pouco...
A Rede Afro LGBT tem militantes em todos os espectros políticos, e
orgulha-se de ser unificada pela identidade negra LGBT contra o
racismo, a homofobia, a lesbofobia e a transfobia. Assim como já
elogiamos este governo e sugerimos pautas à presidenta, não nos
furtamos de fazer as críticas devidas. Infelizmente, nesse momento, a
balança pende para o lado negativo.
Mas tudo isso também tem nos servido de combustível para a indignação
e a luta política. Fomos derrotados novamente pelas chantagens das
bancadas fundamentalistas do Congresso, mas após duas vitórias
importantes: o reconhecimento da união estável homoafetiva pelo
Supremo Tribunal Federal, e a convocação da II Conferência Nacional
LGBT pela própria presidenta Dilma. Sabemos que nenhum direito nos
será concedido, vamos conquistá-los todos.
REDE NACIONAL DE NEGRAS E NEGROS LGBT
redeafrolgbt@gmail.com
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