24/10/2018

MANIFESTO PELA DEMOCRACIA - Liga Brasileira de Lésbicas


A Liga Brasileira de Lésbicas - LBL é uma rede nacional de lésbicas e mulheres bissexuais feministas, que iniciou suas atividades em 2003 durante o Fórum Social Mundial - FSM. As semelhanças que uniram a LBL seguem pautando até hoje nossas vidas e lutas diárias. Lutas que não iniciaram em 2003, no FSM, mas que são parte da resistência de lésbicas e mulheres bissexuais há séculos. Ao olharmos para o século XVI por exemplo, veremos Felipa de Souza, mulher portuguesa, açoitada publicamente e expulsa de Salvador por praticar relações sexuais com outras mulheres. Julgada severamente por uma instituição de justiça que dizia atuar em nome da fé religiosa, que podemos chamar também de inquisição.

Desde então, as ações dos movimentos sociais e os avanços dos direitos humanos, possibilitam maior liberdade de expressão e prática sexual. No entanto, vemos que a violência ainda existe, violando os direitos e os corpos de lésbicas e mulheres bissexuais. No século XXI, vemos o caso de Marielle Franco, mulher, negra, brasileira, assassinada por seus posicionamentos políticos frente a conjuntura local do Rio de Janeiro. Além de ser brutalmente assassinada e de seus assassinos não terem sido identificados até o momento, vemos uma parcela da população ridicularizando sua luta e festejando sua morte. Ainda mais recentemente, em Porto Alegre, uma mulher lésbica foi violentamente atacada por três homens, que marcaram uma suástica em seu corpo com um canivete. A denúncia gerou ainda mais violência para quem noticiou o fato, e outra mulher foi violentada pela falta de empatia de parte da sociedade que já não se cala e faz questão de expressar seus preconceitos e discriminações, que aumentam consideravelmente em todo o país.

O Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil lançado em 2018, mostra crescimento dos assassinatos de mulheres lésbicas nos últimos anos. O documento indica que, no período entre 2000 e 2017, foram registrados 180 homicídios de lésbicas, das quais 126 ocorreram entre os anos de 2014 e 2017. Mais de 80% das pessoas que responderam a pesquisa afirmam ter sofrido algum tipo de violência lesbofóbica, como assédio, agressões físicas e psicológicas. Perdemos Luana Barbosa, Katiane Campos, Priscila da Costa e tantas outras.

Historicamente, os espaços da sociedade onde o protagonismo era restrito a homens, estava posto as mulheres apenas a condição de subserviência e invisibilidade. Homens eram os únicos provedores das casas e famílias, senhores de engenho, representantes da Colônia/República/Estado, militares, médicos/barbeiros, juristas/advogados, construtores/engenheiros, e tantos outros espaços dito masculinos. Hoje, depois de muita luta, as mulheres ocupam estes mesmos espaços e potencializam suas capacidades individuais, construindo a sociedade. Mulheres que tem as responsabilidades em seus núcleos familiares, em seus locais de trabalho, em seus espaços de estudos, locais de expressão religiosa, seus círculos de afeto e fundamentalmente na luta que está mudando a eleição presidencial de 2018 no Brasil.

O contexto atual mostra o quanto é preciso retomar o afeto e a empatia para contrapor o ódio e a discriminação. A disputa eleitoral estabeleceu um cenário crítico repleto de intolerância e multiplicação do ódio, de modo que se abster da votação representa eleger um candidato preconceituoso, machista, racista, LGBTfóbico e intolerante às diferenças regionais, religiosas e de classes. O Antipetismo e o voto nulo, significa eleger democraticamente um candidato contra os direitos humanos, a favor do porte de armas, defensor da ditadura militar e que incita violência em todas as suas colocações.
Votar em Haddad e Manuela é entender que apesar de termos divergências políticas, temos uma construção coletiva maior que requer unidade. Essa construção que nos garante inclusive o direito de discordar e se opor é a democracia, motivo pelo qual seguimos existindo e resistindo, lutando pela redução das desigualdades, pelo reconhecimento e fortalecimento do protagonismo das mulheres, autonomia e direitos reprodutivos de lésbicas e mulheres bissexuais, contra o patriarcado, o capital, racismo, capacitismo, fundamentalismo e o fascismo.

Nos manifestamos contra o candidato Bolsonaro e parte de seu eleitorado com comportamento violento incitado e legitimado por ele. Estaremos sempre em defesa e à favor da democracia, da manutenção dos nossos direitos duramente conquistados e de nossa existência.

Votar é um ato político de cada cidadã brasileira, utilize essa ferramenta de luta. Vamos às urnas, ocupar as ruas e seguir na resistência!

Liga Brasileira de Lésbicas - LBL

Nenhum comentário: