27/06/2013

De pé 13h pelo direito ao abordo

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A senadora democrata Wendy Davis conseguiu um feito maravilhoso ontem de madrugada.   Um projeto de lei deveria ser votado até o prazo de meia-noite de ontem. Caso passasse do prazo, não poderia mais ser considerado válido. Igual aconteceu com nosso ‘cadastro Nacional de gestantes’.  O projeto de lei, entre outras coisas, restringia enormemente o acesso ao aborto no estado americano do Texas. Reduzia o prazo em que era legal abortar, exigia das clínicas que faziam abortos uma grande quantidade de equipamentos e readequações desnecessárias e caras, numa série de medidas que, se implementadas, forçariam o fechamento de 37 das 42 clínicas que ofereciam o serviço de aborto no Texas. Ou seja, o aborto continuaria legal, mas o acesso a ele seria incrivelmente restrito, especialmente para quem vive em zonas rurais.   Caso a votação fosse feita, a lei seria aprovada com certeza. A maioria republicana na casa é toda ‘pró-vida’ - leia-se pró controlar o útero alheio.   Mas há uma pequena regra de conduta que poderia ser aproveitada, chamada Fillibuster. Ela diz que uma pessoa pode se dirigir ao presidente do Parlamento e falar por quando tempo quiser - sobre o assunto em pauta, especificamente. No livro de regras é estabelecido que ele (sic) deve permanecer de pé, sem se inclinar ou apoiar na sua mesa, sem interromper o seu discurso, a menos que seja para responder perguntas ou resolver questões burocráticas, sem ir no banheiro nem comer, nem beber água. Caso a pessoa quebrasse qualquer uma dessas regras, teria um ‘demérito’, por assim dizer, e 3 deméritos significavam que o Fillibuster deveria ser interrompido e dariam continuidade às votações.   Isso mesmo. Era praticamente um Jogos Vorazes capacitista. Capacitista porque presume que toda pessoa tem a capacidade de ficar de pé. E se a senadora fosse cadeirante? Não teria direito de falar? Então, o absurdo da situação era além de um Reality Show. (quem ficar com a mão no carro por mais tempo ganha, uhuu).  O objetivo de Wendy Davis era o de falar até que o prazo para aprovação da lei passasse. Para isso, ela tinha que falar durante 13 horas sem parar. De pé. No mesmo lugar.   Republicanos a todo tempo tentavam interromper e desencorajar o discurso da senadora. Ela recebeu dois ‘deméritos’: Um por ‘sair do assunto’ - aparentemente falar sobre ultra sonografia não estava dentro do assunto do aborto segundo republicanos, apesar deles mesmos terem anteriormente passado leis para restringir o aborto que exigia que se fizesse uma ultra sonografia desnecessária e invasiva.   O segundo demérito foi novamente capacitista: Ela precisou de ajuda para colocar um suporte nas costas - de acordo com o livro de regrinhas, isso era ilegal. Fico pensando que se a Senadora tivesse desmaiado, ou levasse um tiro no meio do discurso, iam também descontar um demérito.   No terceiro demérito, os manifestantes dentro do parlamento gritaram tanto que não consegui ouvir. A senadora já estava de pé por 10 horas e meia discursando.   A partir daí, diversos democratas passaram a fazer um jogo de enrolação do presidente. Questionando os deméritos, revisando o livro de regras da casa, fazendo perguntas ao presidente, de forma a preencher o tempo o máximo possível, para tentar cumprir a meta da senadora e barrar a lei.   Nos últimos 10 minutos, um momento de desespero: As votações tinham começado.   E aí o povo começou a gritar.   O barulho extremo das milhares de pessoas dentro e fora da casa forçou a interrupção da votação. Elas permaneceram gritando durante mais de 10 minutos sem parar. Foi um momento maravilhoso. Democratas faziam sinais de aprovação, republicanos tentavam em vão retomar o voto, e Wendy Davis continuava de pé após 13 horas.   O prazo passou.   O presidente da câmara ainda tentou fazer a votação, ilegalmente, após o fim do prazo. A confusão começou. Republicanos editavam as datas para fingir que a votação tinha ocorrido no dia 25 e não no 26. Democratas questionavam a ilegalidade da votação. #StandWithWendy (fique de pé com Wendy) estava nos TTs do mundo inteiro. 130 mil pessoas assistiam o vídeo ao vivo, apesar de nenhum canal de televisão estar cobrindo a votação.   As 2 horas da manhã, uma vitória, finalmente. A mensagem de texto da senadora avisando que a lei estava morta. A votação tinha começado após o prazo de meia-noite. O direito ao aborto saiu ileso no Texas, dessa vez. Quaisquer outras tentativas de reavivar a lei estarão fora da legalidade ( o que não significa que não vão tentar).  E eu descobri uma nova pessoa pra admirar. A senadora que ficou de pé por 13 horas pelo direito ao aborto.   Wendy Davis, você é a nossa Khaleesi.   (x)
A senadora democrata Wendy Davis conseguiu um feito maravilhoso ontem de madrugada. 
Um projeto de lei deveria ser votado até o prazo de meia-noite de ontem. Caso passasse do prazo, não poderia mais ser considerado válido. Igual aconteceu com nosso 'cadastro Nacional de gestantes'.
O projeto de lei, entre outras coisas, restringia enormemente o acesso ao aborto no estado americano do Texas. Reduzia o prazo em que era legal abortar, exigia das clínicas que faziam abortos uma grande quantidade de equipamentos e readequações desnecessárias e caras, numa série de medidas que, se implementadas, forçariam o fechamento de 37 das 42 clínicas que ofereciam o serviço de aborto no Texas. Ou seja, o aborto continuaria legal, mas o acesso a ele seria incrivelmente restrito, especialmente para quem vive em zonas rurais. 
Caso a votação fosse feita, a lei seria aprovada com certeza. A maioria republicana na casa é toda 'pró-vida' - leia-se pró controlar o útero alheio. 
Mas há uma pequena regra de conduta que poderia ser aproveitada, chamada Fillibuster. Ela diz que uma pessoa pode se dirigir ao presidente do Parlamento e falar por quando tempo quiser - sobre o assunto em pauta, especificamente. No livro de regras é estabelecido que ele (sic) deve permanecer de pé, sem se inclinar ou apoiar na sua mesa, sem interromper o seu discurso, a menos que seja para responder perguntas ou resolver questões burocráticas, sem ir no banheiro nem comer, nem beber água. Caso a pessoa quebrasse qualquer uma dessas regras, teria um 'demérito', por assim dizer, e 3 deméritos significavam que o Fillibuster deveria ser interrompido e dariam continuidade às votações. 
Isso mesmo. Era praticamente um Jogos Vorazes capacitista. Capacitista porque presume que toda pessoa tem a capacidade de ficar de pé. E se a senadora fosse cadeirante? Não teria direito de falar? Então, o absurdo da situação era além de um Reality Show. (quem ficar com a mão no carro por mais tempo ganha, uhuu).
O objetivo de Wendy Davis era o de falar até que o prazo para aprovação da lei passasse. Para isso, ela tinha que falar durante 13 horas sem parar. De pé. No mesmo lugar. 
Republicanos a todo tempo tentavam interromper e desencorajar o discurso da senadora. Ela recebeu dois 'deméritos': Um por 'sair do assunto' - aparentemente falar sobre ultra sonografia não estava dentro do assunto do aborto segundo republicanos, apesar deles mesmos terem anteriormente passado leis para restringir o aborto que exigia que se fizesse uma ultra sonografia desnecessária e invasiva. 
O segundo demérito foi novamente capacitista: Ela precisou de ajuda para colocar um suporte nas costas - de acordo com o livro de regrinhas, isso era ilegal. Fico pensando que se a Senadora tivesse desmaiado, ou levasse um tiro no meio do discurso, iam também descontar um demérito. 
No terceiro demérito, os manifestantes dentro do parlamento gritaram tanto que não consegui ouvir. A senadora já estava de pé por 10 horas e meia discursando. 
A partir daí, diversos democratas passaram a fazer um jogo de enrolação do presidente. Questionando os deméritos, revisando o livro de regras da casa, fazendo perguntas ao presidente, de forma a preencher o tempo o máximo possível, para tentar cumprir a meta da senadora e barrar a lei. 
Nos últimos 10 minutos, um momento de desespero: As votações tinham começado. 
O barulho extremo das milhares de pessoas dentro e fora da casa forçou a interrupção da votação. Elas permaneceram gritando durante mais de 10 minutos sem parar. Foi um momento maravilhoso. Democratas faziam sinais de aprovação, republicanos tentavam em vão retomar o voto, e Wendy Davis continuava de pé após 13 horas. 
O prazo passou. 
O presidente da câmara ainda tentou fazer a votação, ilegalmente, após o fim do prazo. A confusão começou. Republicanos editavam as datas para fingir que a votação tinha ocorrido no dia 25 e não no 26. Democratas questionavam a ilegalidade da votação. #StandWithWendy (fique de pé com Wendy) estava nos TTs do mundo inteiro. 130 mil pessoas assistiam o vídeo ao vivo, apesar de nenhum canal de televisão estar cobrindo a votação. 
As 2 horas da manhã, uma vitória, finalmente. A mensagem de texto da senadora avisando que a lei estava morta. A votação tinha começado após o prazo de meia-noite. O direito ao aborto saiu ileso no Texas, dessa vez. Quaisquer outras tentativas de reavivar a lei estarão fora da legalidade ( o que não significa que não vão tentar).
E eu descobri uma nova pessoa pra admirar. A senadora que ficou de pé por 13 horas pelo direito ao aborto. 
Wendy Davis, você é a nossa Khaleesi. 

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