16/05/2013

SOMOS TANTAS! EM PROSA E VERSO.

Somos Tantas
Estamos em todos os lugares
Mas poucas pessoas querem nos ver
Somos negras, brancas, mestiças
Somos altas, magras, roliças
Somos jovens, adultas, idosas
Somos mulheres comuns, famosas
Somos atéias, cristãs, religiosas
Somos trabalhadoras dólar, da rua
Somos filhas, mães, avós da lua
Somos tristes, alegres, sonhadoras
Somos lésbicas batalhadoras
Existimos!
Estamos no mundo!
Vê quem quer enxergar!
Escuta quem quer ouvir!  
ESTE POEMA FOI ESCRITO EM JUNHO DE 2003, NO INÍCIO DA LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICAS(LBL). por SILVANA CONTI
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ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM MAIO DE 2013. 
TEMOS MUITOS AVANÇOS, MAS TEMOS MUITOS MOTIVOS PARA CONTINUAR CAMINHANDO, MARCHANDO, GRITANDO, POETANDO...

SOMOS TANTAS!
Busquei algumas imagens para refletir sobre nosso papel de mulher na sociedade, nosso lugar, nosso destino...
Somos as "outras", as que tem origem da costela de Adão que tem o modelo e a imagem de Deus, as mais devotas, cuidadoras, prestativas, dóceis, passivas, submissas, estéricas, mal amadas, mulher macho, caminhoneiras, sapatão, machorras, enfim, todos os adjetivos oriundos da sociedade patriarcal, sexista, lesbofóbica, racista, e tantas outras manifestações que ao longo dos tempos vem se apresentando, legitimando, oprimindo, invisibilizando as mulheres.
Vamos as imagens:
1ª imagem: Para vender uma geladeira na década de 50, a cena "natural" era dois homens brancos rindo, conversando, ouvindo música na rua, enquanto sai de dentro de casa uma mulher branca de avental carregando e servindo uma garrafa gelada e dois copos. Esta mulher também sorria e parecia feliz em fazer aquela tarefa.
2ª imagem: Para vender a cerveja Sol em 2009, a cena "natural" era um bar cheio de pessoas brancas na sua maioria homens brancos. Em destaque uma mulher branca com cara de decidida, autônoma, segura, magra, de cabelos lisos, numa posição que realça o tamanho da sua bunda, no balcão pedindo uma cerveja. Atrás dela três homens  brancos sentados bebendo de queixo caído pois estão olhando para a bunda da mulher que está no balcão bebendo cerveja.
Segundo Dirlene Marquês(1987), " a opressão passa pela disciplina do corpo, pela difusão de modos de contracepção, pela impossibilidade de ascensão profissional para as mulheres, pela imposição de chefias masculinas. Recria-se na fábrica a mesma forma de hierarquia social caracteristica do patriarcado, onde as mulheres se encontram sob o domínio direto dos homens".
Como diria Saffioti(1984), podemos reconhecer nessa formulação  a prática combinada do capitalismo com o patriarcado na construção social da submissão feminina, necessária à reprodução da sociedade de classes".
Mesmo com o avanço legislativo da Constituição de 1988 que foram:a licença maternidade, mais direitos para as trabalhadoras domésticas e ampliação do direito à creche para todas as crianças de 0 a 6 anos, nosso lugar de objeto, de exploradas, dominadas social, cultural, política, ideológica e economicamente, ainda segue no século XXI, pois agora não estamos mais só dentro de casa servindo e cuidando, mas seguimos sendo tratadas como mercadorias, como assujeitadas, sempre na intenção de assumirmos papéis de "sexo frágil", de natureza emocional, delicada, enfim, determinando biologicamente nossa "essência feminina".
Para Rago(1995) "aprendemos com Foucault que há possibilidades de cada tempo propor sua maneira de viver, sonhar e problematizar. Assim tem sido para a história das mulheres, das(os) negros(as), dos gays, das lésbicas, travestis, transexuais, etc".
Em sua análise Butler(2001) reconhece as forças estruturantes da cultura, do discurso  e do poder, mas para ela, o sexo é produzido e ao mesmo tempo desestabilizado no curso da reiteração das normas sociais. Isso porque é através do processo de reiteração das normas que flui instabilidades em espaços para a desconstrução. Esta possibilidade existe, afirma a autora, no que excede, no que deixa escapar, no que não é definido, no que não é fixado pelas normas.
A cada dia somos desafiadas a desnormatizar as normas, a conviver e apostar na autonomia dos corpos, das mentes, dos corações.
Estou convicta que temos muito que avançar para superarmos os rótulos, as caixas, as regras, as normas, as convenções que sem dúvida só servem para inviabilizar as felicidades, os sonhos, as vidas de quem ousa viver a sua sexualidade de forma plena e livre.
Dedico este texto a todas as lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Mulheres guerreiras, lutadoras, sonhadoras, fortes, bravas, resistentes, sábias, que não desistem, não dobram a espinha, não deixam de sonhar e batalhar por sua dignidade, igualdade de direitos e oportunidades.
Silvana Conti. Lésbica-Feminista, Professora da Rede Municipal de Educação de Porto Alegre. Militante da Liga Brasileira de Lésbicas, Membro da Executiva da UBM/POA e Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher/POA.
Referências Bibliográficas:
Pereira, Verbena Laranjeira. Gênero: dilemas de um conceito. In: Strey, Marlene N.et.al.(org.). Gênero e cultura: questões contemporâneas. Porto Alegre, Edipucrs, 2004. 173-198

Castro, Mary G. & Lavinas, Lena. Do feminismo ao gênero: a construção de um objeto. In: Costa, Albertina de Oliveira & Bruschini, Cristina. Uma questão de gênero. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, 1992 p. 216-251

Correa, Mariza. Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal. Cad. Pagu[online]. 2001, n.16, pp.13-30. ISSN 0104-8333



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