26/08/2012

MISOGINIA, MACHISMO E LESBOFOBIA SEMPRE CAMINHAM JUNTOS!

Há cinco dias de "comemorarmos" o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica no Brasil (todos os anos, sempre, no dia 29 de Agosto) recebemos mais uma notícia de um duplo assassinato bárbaro, agora em Camaçari na Bahia.

Duas meninas, de 22 e 25 anos, namoradas, morando juntas há menos de dois meses, caminhava de mãos dadas pela rua à noite, voltando de um camelódromo, onde trabalhavam.

De moto, dois homens passam e atiram: Fernanda é atingida com dois tiros no tórax e um na cabeça; Maíra com um tiro na cabeça. Ambas morrem no local, uma ao lado da outra.

O principal suspeito é o ex-namorado de Fernanda, segundo a imprensa, "inconformado com a separação". A família de Maíra noticia que elas receberam ameaças por telefone durante toda a quinta-feira.

Algumas coisas chamam atenção neste caso:

Ø Como normalmente acontece, as meninas tiveram relacionamentos heterossexuais antes de se assumirem lésbicas;

Ø Um dos ex-namorados não aceitava o relacionamento delas;

Ø O assassinato foi anunciado, com ameaças que foram ignoradas pelas jovens;

Ø Camaçari, na Bahia (o Estado que todo ano é recordista em crimes homofóbicos) já havia aparecido na imprensa no dia 24 de Junho (04 dias antes do Orgulho Gay) pela morte de um dos gêmeos, agredidos por serem confundidos com gays ao saírem de uma festa junina;

Ø Nenhuma ação foi efetivada pelo Estado, após o assassinato Gay

Ø A delegada Maria Teresa Santos Silva, que investiga o crime de Fernanda e Maíra, acredita que não seja assassinato por lesbofobia

Me parece que a "linha investigativa" que será seguida será a de crime por vingança e ciúme, descaracterizando a lesbofobia do assassinato.

O que parece não ser percebido pelo Estado (neste caso representado pela Delegada que chefia a investigação) é que a Misoginia (ódio às mulheres), o Machismo (sentimento de superioridade dos homens em relação às mulheres) e a Lesbofobia (ódio aos relacionamentos entre duas mulheres) andam sempre juntos e se realimentam todo o tempo.

Um machista não admite ser deixado por uma mulher que escolheu para ser "sua". Um ser inferior não pode dizer quando vai parar o relacionamento com ele; afinal esta é uma prerrogativa do macho, do dono do relacionamento. Seu ódio, alimentado pelo sentimento de superioridade e de posse, diz que se ela o deixa ela pode ser punida e a punição pode, sim, ser a morte.

Este componente é comum e está relacionado em 02 de cada 03 assassinatos de mulheres no Brasil.

O componente novo desta fórmula, no caso de Camaçari, aparece quando o relacionamento que tirou o objeto de posse do homem é uma outra mulher, uma outra inferior. Se antes a "disputa pelo objeto" era entre iguais, agora ela é entre desiguais; assim, MATAREI A S DUAS, pensa o machista!

Ignorar que isso aconteceu é jogar para baixo do tapete o componente que matou José Leonardo, o irmão de José Leandro (violentamente agredido, mas que sobreviveu), Fernanda e Maíra, três dos quase 300 casos de assassinatos registrados anualmente no Brasil por motivos de ódio homo, lesbo e transfóbico.

Pior. Ao jogarmos isso para baixo tapete perpetramos a cultura que cria homens como superiores, mulheres como inferiores, pessoas como objetos que podem usados e descartados, agredidos, abusados e mortos quando fogem do padrão heterossexual, branco e masculino que colocamos como culturalmente superiores.

Aos movimentos sociais compete denunciar e lutar contra este padrão; Ao Estado compete colocar a disposição destes movimentos instrumentos capazes de combater esta cultura e estabelecer uma sociedade de entendimento, compreensão e respeito às diferenças e às diversidades.

Neste dia 29 de Agosto não teremos o que comemorar; choraremos mais este crime horrendo, mas faremos isso colocando nas ruas nossas bandeiras de lutas, nos corpos em movimento, nosso grito de liberdade e de autonomia.

Continuaremos LUTANDO para que uma educação inclusiva, não sexista, antimachista, não racista e não lesbofóbica, homofóbica e transfóbica seja efetivamente constituída no Brasil. Em ano de eleições municipais votaremos CONTRA A HOMOFOBIA e saberemos eleger pessoas comprometidas com as pautas do movimento LGBT para que outras Fernandas e Maíras possam viver em um mundo de tolerância!

FERNADA: PRESENTE!

MAÍRA: PRESENTE!

LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICAS – 10 anos de LUTAS!

29 de agosto estarmos no Largo Glênio Peres, das 12 às 20hs - Em Porto Alegre.
 
VENHA COM A GENTE!

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