01/06/2011

Casal de lésbicas completam 70 anos de casamento

Leto e Magazzu estão juntas há 70 anos. Isso mesmo, 70 anos de amor,
descobertas, confidências, conflitos, brigas, ciúmes, harmonia,
carinho, amizade, confiança e todos os sentimentos que integram um
relacionamento de verdade.
Além de ser um marco chegar aos quase 100 anos de idade juntas, a
história dessas duas mulheres tem um ingrediente a mais. Resistiu ao
preconceito do passado e resiste ao do presente. Sim, porque mesmo
depois de tantas décadas Leto e Magazzu ainda são vítimas daquilo que
consideramos um dos maiores males da sociedade. Fica fácil entender
porque elas mantiveram sua união em segredo durante tanto tempo. Vejam
agora a história dessas duas jovens gays numa tradução adaptada:
Sim, casais formados por pessoas com 90 anos ainda discutem
ocasionalmente. O exemplo pode ser visto no sofá da casa de Caroline
Leto e Venera Magazzu: "Não vamos ter uma festa", diz Magazzu, de 97
anos, argumentando que elas são muito idosas para esse tipo de coisa.
"Sim, nós somos", responde Leto, de 96, que admite que as duas podem
ainda dançar polka.
Uma festa celebrando os 70 anos juntos é um marco para qualquer casal.
Especialmente para essas duas senhoras, considerando que elas tiveram
de silenciar sobre a história de amor delas durante décadas. "Você
simplesmente não podia dizer para todo mundo que nós éramos amantes",
contou Leto. "Você diz para as pessoas que somos amigas, algumas
pensam que éramos irmãs".
Leto e Magazzu ignoram seu pioneirismo na comunidade gay e lésbica.
Mas muitos dos seus amigos e parentes reforçam o seu papel, apontando
para o fato de como o amor das duas foi capaz de transcender o tempo,
cheio de obstáculos. Para celebrar o amor das duas, membros da Etz
Chaim, uma associação de gays e lésbicas em Wilton Manors, estão
planejando uma festa. Eles esperam que Leto e Magazzu atendam ao
pedido e mostrem a todos como dançar a polka.
"Honestamente, eu acho que as duas estão mais apaixonadas do que no
passado", afirma um amigo pessoal do casal. "Olhe para os casais
heterossexuais. Você tem sorte se ainda permanece casado após sete
anos. Esta é uma história de amor incrível".
Em 1939, Leto e Magazzu se conheceram em uma festa em Nova York. Leto
achou Magazzu estilosa, que a considerou divertida. Um ano depois,
Magazzu, professora, e Leto, operadora de telégrafo, mudaram-se para
uma humilde casa, em Nova York. Elas passaram a maior parte da vida
lá, com poucos parentes e amigos próximos sabendo sobre o
relacionamento.
Magazzu conta que sempre brigou para contar para as outras pessoas,
mas que temia o que elas poderiam pensar. Ela acredita que a sociedade
daquela época era muito mais receptiva a duas mulheres que moram
juntas do que a dois homens – e também bem menos inquisitiva.
"Eu acho que a maior parte das pessoas desconfiava, mas nunca fizeram
escândalo sobre isso porque éramos apenas duas mulheres", disse. "Eles
não perguntavam, e nós simplesmente não falávamos".
A sobrinha de Leto, Patricia Dillion, contou que cresceu acreditando
que as duas fossem irmãs e sempre se referiu a elas como tias. Leto
contou o "segredo" a ela durante uma festa de família. "Ela mencionou
que elas tinham se casado", disse Dillion. "Eu fiquei tão feliz, mas
depois fiquei pensando em todo o tempo que elas não puderam admitir
isso".
Em 1996, as duas se registraram como parceiras em Nova York. Elas
contam que fizeram isso porque sentiram que precisavam contar a todos
sobre a sua vida juntas.
Anos depois, se mudaram para a Flórida, quando se tornaram mais ativas
na comunidade LGBT, servindo de exemplo para os ativistas. Além disso,
passaram a levar vida de qualquer jovem aposentado na Flórida:
viajando em cruzeiros, jogando pôquer com os amigos. Adotaram um
animal de estimação, um macaco chamado Chi-Chi.
Em 2006, com uma desacelerada normal causada pelo avanço da idade,
Magazzu colocou no papel a história delas, num livro chamado "An
Unadulterated Story: Young and Gay at 90" (Uma história pura: jovem e
gay aos 90). Durante a entrevista que originou a matéria do Herald
Tribune, o repórter presenciou um fato curioso: as duas discutindo
sobre onde estava um exemplar do livro. Magazzu insistia que estava no
quarto. Leto, que havia visto no bagageiro do carro.
"Ok, então se você sabe onde está tudo, vá lá e pegue", provocou
Magazzu, enquanto apelava a uma busca na cozinha. Leto apenas sorriu e
disparou: "Meiga, não?".

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