18/01/2012

Simone de Beauvoir e Rosa Luxemburgo: poesias irreverentes e radicais

Simone de Beauvoir e Rosa Luxemburgo: poesias irreverentes e radicais
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Mês de janeiro é mês de recordar duas irreverentes mulheres que marcaram seus tempos ao enfrentar corajosamente as convenções e o patrulhamento
ideológico, e hoje são inspirações para a luta feminista e de Outro Mundo Possível: Simone de Beauvoir e Rosa Luxemburgo.
Recontar, mesmo que brevemente essas histórias de experiências femininas, é
também afirmar a importância das mulheres na história e romper o silêncio
em que estávamos confinadas. Michelle Perrot, conhecida mestra da História
das Mulheres, alerta em Minha História das Mulheres: As mulheres ficaram
muito tempo sem o relato da história, como se, destinadas à obscuridade de
uma inenarrável reprodução, estivessem fora do tempo, ou pelo menos fora do
acontecimento (PERROT, 2007, p. 16). Para Perrot uma história sem as mulheres é impossível (p. 13). Assim, nas próximas linhas ao fazer memória da vida dessas destacadas mulheres, iremos contra as definições de histórias e seus agentes já estabelecidos como "verdadeiros" que por muito
tempo tornaram as mulheres invisíveis.
Não se nasce mulher, torna-se mulher – Simone de Beauvoir
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No último dia 09 Simone de Beauvoir completou 104 anos, se viva. Simone de
Beauvoir, em que numa entrevista histórica de 1972 proclamou em alto e bom som sou feminista, é autora da famosa frase Não se nasce mulher, torna-se mulher. A afirmação faz parte do seu livro o Segundo Sexo lançado na década
de 40 e que marcou os estudos feministas e a questão de gênero. O livro,
que na época levantou inúmeras polêmicas tanto por parte da direita como da esquerda, trata das condições sociais e culturais enquanto responsáveis
pela construção da identidade feminina e masculina. Em entrevista à Alice
Shwarzer (1972), Beauvoir recorda trinta anos depois sobre seu livro e defende O eterno feminino é uma mentira, pois a natureza desempenha um papel ínfimo no desenvolvimento de um ser humano: somos seres sociais.
Nascida em Paris no ano de 1908, Simone presenciou durante sua infância sua
família falir. Seu pai George de Beauvoir considerou que as filhas não conseguiriam bons casamentos e assim passou a crer que somente o sucesso
acadêmico poderia tirar as filhas da pobreza. Mais tarde a francesa
criticava os valores burgueses em Memórias de uma moça bem comportada.
Na década de 60, nos nascentes movimentos feministas, Simone se envolveu na luta das mulheres e defendia um movimento feminino especifico e autônomo. E até hoje seus estudos e sua vivência são revisitados e refletidos,
inspirando a luta diária de mulheres.
Socialismo ou barbárie – Rosa Luxemburgo
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Já no dia 15, a memória se volta para a polonesa judia Rosa Luxemburgo,
conhecida com a Rosa Vermelha. Completou – se 93 anos do assassinato de
Rosa, morta na noite de 15 de janeiro de 1919 em Berlim por soldados a
serviço de governantes social-democratas. Eles atiraram em sua cabeça
depois de horas de tortura do Hotel Éden e jogaram seu corpo num canal.
Somente em 31 de maio encontraram seu corpo já irreconhecível e podre,
sendo reconhecida por pedaços de vestido e um pingente.
Sua conhecida palavra de ordem Socialismo ou barbárie resume sua vida
marcada pela luta da esquerda radical, anti-capitalista e anti-imperialista. Rosa Luxemburgo Rosa iniciou sua militância no movimento socialista ainda quando estava na escola secundária e em 1894 fundou o Partido Social-Democrata (SPD) da Polônia e Lituânia. Após 4 anos,obteve a nacionalidade alemã, instalando-se em Berlim e engajando-se nos debates com
a social-democracia alemã. Percebendo elementos de capitulação – que depois
ajudaria a ascensão do nazismo – Rosa enfrentou o reformismo de Edouard
Berstein. A teórica marxista atacava as teses revisionistas, denunciando o
esquematismo teórico e o oportunismo político de Berstein, que abandonava
não apenas o marxismo como a luta pelo socialismo. Para Rosa, "entre a reforma e a revolução devia haver um elo indissolúvel" no qual "a luta pela
reforma é o meio e a revolução social é o fim".
Anos mais tarde lança A Acumulação do Capital, combatendo as correntes
nacionalistas do SPD e firmando seu internacionalismo proletário e seu
antimilitarismo radical. Rosa também ajudou na fundação do Partido
Comunista da Alemanha (KPD).
Rosa Luxemburgo é um exemplo para nós mulheres ocuparmos cada vez mais os
espaços da cena política, seja em movimentos sociais ou partidos políticos.
Além disso, sua defesa de um projeto anti-capitalista nos provoca a refletir de que a construção de uma igualdade real entre mulheres e homens deve ser permanentemente ao lado da luta contra as diversas formas de dominação. Nesse caso o fim da opressão de gênero só será possível com uma mudança do sistema vigente de opressão social.
Por fim, as vidas dessas duas mulheres permeadas pela poesia irreverente e
radical se cruzam na palavra de ordem encontrada na Itália por Simone de
Beauvoir em suas andanças: Nada de revolução sem a emancipação da mulher,
nada de emancipação da mulher sem a revolução.
Que a nossa memória corrompida por inúmeros patriarcalismos não nos mova ao esquecimento das inspiradoras Simone de Beauvoir e Rosa Luxemburgo.
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*Paula Grassi*
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