Foi por um triz.
Os últimos dias de janeiro de 2011 testemunharam uma demonstração
massiva de solidariedade global com Brenda Namigadde. Cidadã de
Uganda, negra, lésbica, Brenda fugiu de seu país há 8 anos, depois de
ter sua casa queimada, em apenas mais uma das inúmeras demonstrações
de intolerância e violência que ela viveu durante sua vida. Fugiu para
a Inglaterra, onde apresentou pedido de asilo baseado no compromisso
do Reino Unido de abrigar pessoas que estejam sob ameaça em seus
países por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
A solicitação de asilo foi negada a Brenda por um juiz que alegou não
ter evidências suficientes de sua homossexualidade, já que a moça não
possui e não tem o hábito de ler revistas sobre a temática LGBT. À
medida que a história de Brenda vai se desdobrando, notícias
alarmantes surgem a respeito de como os casos de exílio LGBT são
processados de maneira aleatória e às vezes francamente ofensiva.
Quanto mais cavamos, mais claro vai ficando que o sistema de proteção
de pessoas sob perseguição está terrivelmente cheio de falhas e exige
a nossa atenção.
A deportação estava confirmada para o dia 21 de janeiro de 2011, mas
houve um erro na lista de passageiros e o embarque teve que ser adiado
para o dia 28 do mesmo mês. A jornalista Melanie Nathan do site
LezGetReal.comsoube da notícia e começou uma mobilização para salvar
Brenda da violência e perseguição certas caso voltasse ao seu país.
Com a viagem confirmada para a última sexta-feira (28/1), LezGetReal
se juntou à LGBT Asylum News, AllOut.org,GetEqual.org e colocaram no
ar uma carta pública endereçada à Secretária do Interior do Reino
Unido pedindo que Brenda não fosse deportada. Em apenas três dias,
quase 60 mil pessoas assinaram a carta numa movimentação grande demais
para ser ignorada por qualquer autoridade britânica. Brenda já estava
dentro do avião quando chegou a liminar suspendendo sua deportação.
Foi uma vitória de um movimento global jovem, bem informado,
comprometido com a garantia de direitos iguais para pessoas LGBT e
conectado via internet pelo mundo todo. O que assistimos foi,
provavelmente, a inauguração formal de um novo modelo de mobilização
política pelos direitos sexuais, com a característica muito particular
dos tempos atuais: a mobilização instantânea.
Uganda é atualmente um dos países mais perigosos para lésbicas, gays,
bissexuais e pessoas trans viverem, segundo classificação da ILGA. As
relações sexuais entre homens é punível com até 10 anos de reclusão, e
o sexo entre mulheres é considerado ilegal. Enquanto diversos países
da América Latina e Europa estão aprovando leis de igualdade para
pessoas LGBT e casais formados por pessoas do mesmo sexo, em Uganda
tramita uma proposta de lei que institui pena de morte para
homossexuais. O parlamentar Ugandense que está promovendo a Lei
Anti-Gays (que prevê pena de morte para homossexuais) ligou
diretamente para Melanie Nathan para criticar a "cobertura de péssima
qualidade" que ela vem fazendo desse tema em seu site, deixando claro
que está acompanhando passo a passo o caso de Brenda. Chegou a dizer
que estava aguardando Brenda chegar a Campala para se desculpar e se
"reformar", ou seja, "curar" sua lesbianidade. Ou…
Há uma semana, o caso de Brenda era virtualmente desconhecido, e era
certa a sua deportação para Uganda, onde o querido ativista pelos
direitos LGBT David Kato foi brutalmente assassinado na última
quarta-feira. Mas graças a você e mais de 60 mil outras pessoas que
enviaram cartas, marcharam pelas ruas de Londres e compartilharam a
história de Brenda, nós construímos um apelo internacional que fez
barulho demais para que a Secretária do Interior da Inglaterra Theresa
May e outras autoridades daquele país pudessem ignorar.
É uma história incrível, mas ainda não acabou…
Hoje, dia 2 de fevereiro, o pedido de exílio de Brenda será revisado –
a corte decidirá de uma vez por todas se aprova ou nega autorização
para que possa viver aberta e livremente na Inglaterra. A situação
parece positiva, com muitas pessoas levantando a voz em seu apoio. Mas
nós precisamos manter a pressão sobre Theresa May e o governo inglês
para que cumpram a promessa de priorizar pedidos de exílio de pessoas
LGBT.
Portanto, se você ainda não fez a sua parte, ainda é tempo. Por favor
espalhe a história de Brenda pelo mundo afora e diga ao Departamento
de Interior do Reino Unido que você se importa com Brenda.
Ninguém será livre até que todas as pessoas sejam livres.
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