As meninas que vivem na aldeia de Benban (Egito) foram as primeiras a não passar pelo processo de ablação do clitóris graças um acordo histórico em que seus habitantes se comprometeram a dar fim a esta prática tradicional. Assinado por cristãos e muçulmanos, o protocolo chamado "A Menina de Benban" permitirá que as jovens mulheres desta aldeia, que fica a mil quilômetros ao sul do Cairo, se livrem de um destino pelo qual passam 90% das egípcias.
Apesar de ser oficialmente proibida, por lei, há mais de uma década, a maioria dos egípcios defende a ablação do clitóris para frear o desejo sexual feminino e garantir a honra e a fidelidade da mulher a seu esposo.
Segundo o "Projeto Nacional de Luta contra a Ablação" - até hoje ativo no Egito - a ablação era praticada em meninas de oito a 12 anos e o grau de extirpação do clitóris variava de uma província para outra. O movimento cogita o ingresso de ações em tribunais internacionais para que o impacto resulte, na prática, no sucesso da iniciativa e se amplie a todo o país.
Em Assuã, por exemplo, se pratica o método "sudanês", mutilando não só o clitóris mas parte dos grandes lábios. Após a assinatura do histórico acordo de Benban, o governador de Assuã ameaçou destituir os médicos que realizassem a ablação. O problema é que várias operações de ablação continuaram sendo praticadas por barbeiros e parteiras, que atendiam à demanda de uma população que não só desobedece a proibição do governo egípcio, mas prefere não ouvir a opinião de xeques muçulmanos de que a ablação não é uma obrigação religiosa.
A ablação é praticada em 28 países africanos, tanto de tradição cristã como muçulmana ou animista, e é um fenômeno não comum em países muçulmanos fechados como Afeganistão e Arábia Saudita. Sua origem é um costume africano muito antigo que data de antes do judaísmo. A história revela que a a ablação foi introduzida no Egito com a invasão dos etíopes na época da 25ª dinastia faraônica, que governou o país entre 736 e 657 a.C. O Egito tem taxa de analfabetismo superior a 40%.
Sudão, Somália, Djibuti e Iêmen (embora neste último só praticado em 29% das adolescentes) são os outros países árabes onde ainda se amputa o clitóris.
Espaço Vital - Em 01.08.05
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