26/07/2010

Negras são as maiores vítimas de violência no RJ.

Rio de Janeiro - A mulheres negras têm mais chance de serem alvo de
violência no Rio de Janeiro, segundo constata pesquisa divulgada pelo
Instituto de Segurança Pública (ISP), na semana passada, baseada em
dados coletados em 2009.

O Dossiê Mulher 2010 mostra que as mulheres pretas e pardas (negras,
na categoria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) são a
maioria entre as vítimas de homicídio doloso - aquele em que há
intenção de matar - (55,2%), tentativa de homicídio (51%), lesão
corporal (52,1%), além de estupro e atentado violento ao pudor (54%).
As brancas só eram maioria nos crimes de ameaça (50,2%).
De acordo com a coordenadora da organização não-governamental Crioula,
Lúcia Xavier, embora o racismo não esteja evidente nos casos de
violência contra a mulher negra, está por trás de processos de
vulnerabilizaçã o dessas mulheres, que as deixam mais expostas a
situações de violência. Para ela, a sociedade desqualifica as mulheres
negras.

"O racismo permite que a sociedade entenda que essas mulheres [negras]
podem ser violentadas" , afirmou Lúcia. "Está aí a representação delas
como lascivas, quentes, sem moral do ponto de vista da sua experiência
sexual. Logo, acabam mais vulneráveis para essa violência".

Em todos os crimes listados no dossiê, também chama a atenção o
percentual de vítimas que conheciam os agressores. Nos casos de lesão
corporal, 74% das mulheres tiveram contato com os acusados, entre os
quais 51,9% eram companheiros ou ex-companheiros. Pai ou padrasto,
parentes e conhecidos somaram 22,1% dos agressores.

Nas ocorrência de tentativa de homicídio, a pesquisa constatou que em
45,8% dos casos as vítimas também conheciam os agressores, assim como
em 38,8% dos casos de estupro e atentado violentado ao pudor, dos
quais 58,4% do total de vítimas tinha até e 17 anos.
"As pessoas que se relacionam intimamente também reproduzem essa
violência simbólica do racismo", destacou a coordenadora da Crioula.

Um das pesquisadoras responsáveis pelo estudo do ISP, a capitã da
Polícia Militar Cláudia Moares, não faz a mesma avaliação de Lúcia
Xavier. Para a militar, a pesquisa não traz elementos suficientes para
relacionar a violência contra as mulheres negras ao racismo.

Cláudia destaca também que as mulheres brancas, em termos percentuais,
sofrem quase a mesma violência que as mulheres pardas.
"Essa violência, do tipo doméstica, é democrática, afeta todo os
níveis e classes sociais", afirmou. A pesquisadora também questionou o
critério de auto-declaraçã o racial, definido pela própria vítima.
"A pesquisa não traz elementos para afirmar que a questão de raça é um
fator motivador da violência. Encontramos maior distribuição [entre
pretas e pardas], até porque essa cor é auto-declarada, não é
estabelecida pela pessoa que fez o registro", explicou Claudia.

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