06/07/2010

Ensino religioso ou homofobia?

(05.07.10) Espaço Vital

Uma pesquisa da Universidade de Brasília concluiu que o preconceito e
a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa de milhares de
crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro. Produzido com base
na análise dos 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas
públicas do país, o estudo foi apresentado na obra "Laicidade: O
Ensino Religioso no Brasil", lançado na última terça-feira (22).

"O estímulo à homofobia e a imposição de uma espécie de 'catecismo
cristão' em sala de aula são uma constante nas publicações", afirma a
antropóloga e professora do departamento de serviço social, Débora
Diniz, uma das autoras do trabalho.
A pesquisa analisou os títulos de algumas das maiores editoras do
país. A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma
liderança indígena no campo religioso - limitada a uma referência
anônima e sem biografia -, 12 vezes mais que o líder budista Dalai
Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência
intelectual para o Protestantismo. João Calvino nem mesmo é citado.

O estudo aponta também que haveria discriminação contra homossexuais.
"Desvio moral", "doença física ou psicológica", "conflitos profundos"
e "o homossexualismo não se revela natural" são algumas das expressões
usadas para se referir aos homens e mulheres que se relacionam com
pessoas do mesmo sexo. Um exercício com a bandeira das cores do
arco-íris acaba com a seguinte questão: "se isso (o homossexualismo)
se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?".
A pesquisadora afirma que o estímulo ao preconceito chega ao ponto de
associar uma pessoa sem religião ao nazismo – ideologia alemã que
tinha como preceitos o racismo e o anti-semitismo, na primeira metade
do século 20. "É sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter
comportamentos violentos e ameaçadores", observa Débora. "Os livros
usam de generalizações para
levar a desinformação e pregar o cristianismo", completa a
especialista, uma das três autoras da pesquisa.
Os números seriam contrastantes com a Lei de Diretrizes e Base da
Educação, cuja ordem é garantir justiça religiosa e liberdade de
crença. A Lei nº 9475, em vigor desde 1997, regulamenta o ensino de
religião nas escolas brasileiras. "Há uma clara confusão entre o
ensino religioso e a educação cristã", afirma Débora.
A antropóloga reforça a imposição do catecismo. "Cristãos tiveram 609
citações nos livros, enquanto religiões afro-brasileiras, tratadas
como 'tradições', aparecem em apenas 30 momentos", comenta a
especialista. (com informações da Agência UnB

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