*Falta prender o médico para libertar suas vítimas
A juíza Kenarik Boujikian Felippe, em 23 passado, tornou pública uma
sentença inédita em nosso país: a condenação a 278 anos de prisão em regime
fechado do renomado especialista em reprodução humana assistida (RHA) Roger
Abdelmassih, 67 anos. Consta na sentença (195 páginas), que vale a pena ser
lida: *"Agora não se fala mais em indícios, mas de certeza. Está comprovado
que o réu está a delinquir de longa data, de forma reiterada, enfrentando as
vítimas, com menoscabo à Justiça, assumindo posição de superioridade, de ser
inatingível".* Perfil de um sociopata e criminoso Deus da Medicina.
Relembro o caso em um trecho de um artigo meu:* "Desde quando uma
ex-funcionária do dr. Roger declarou ao Ministério Público de São Paulo que
ele a beijou à força (18.4.2008), muita água já rolou: até o inquérito
sumiu! Foi encontrado no banheiro do fórum! Em 9.1.2009, a Folha de S.Paulo
veiculou matéria dizendo que o médico estava sendo investigado. Apareceram
cerca de 65 mulheres relatando crimes cruéis, de abusos sexuais a estupros.
Os fatos ocorreram no consultório do médico, exceto um, há 40 anos, quando a
atendida por ele num plantão em Campinas foi convidada a fazer sexo e teve
de aturar um pênis passeando pelo seu corpo - depoimento lapidar para que o
MP pedisse a prisão dele, no último 17 de agosto, sob o argumento de que
pratica crimes sexuais compulsivamente há 40 anos. Logo, é
perigoso"*("Sociopatas não são doentes, seus crimes devem ser
punidos", Opinião,
23.11.2009). www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=9404
Roger Abdelmassih ficou preso de 17.8 a 24.12.2009. Seu registro médico foi
suspenso pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo em dezembro de 2009
e caçado em definitivo em 23.7.2010. Entre a suspensão e a cassação,
Abdelmassih formalizou pedido de renúncia à medicina - modo honroso de
deixar a profissão e a ela retornar quando desejasse. Solicitação sabiamente
rejeitada pelo conselho. O condenado continua em liberdade e especula-se que
assim continuará. No Brasil, sentenciado com 70 anos de idade tem o tempo
prescricional diminuído pela metade e é comum que condenados de situação
econômica abonada encontrem brechas em filigranas jurídicas e continuem em
liberdade. Exemplo recente é o do matador de Sandra Gomide (19.8.2000),
Pimenta Neves, réu confesso e condenado a 19 anos de prisão (5.5.2006), que
só ficou preso de 30.8.2000 a 23.3.2001, antes de ser sentenciado!
A médica Ana Reis diz: "passada a emoção da notícia da condenação e lendo
depois os discursos nos telejornais, fico com a forte impressão de que ele
muito provavelmente não cumprirá pena. Não entendo como uma pessoa condenada
a 278 anos de cadeia não oferece perigo para a sociedade e aguarda solto o
recurso. Para quem na sociedade ele não oferece perigo? (...) Na TV, foi
grande o espaço para os argumentos do advogado de defesa de que não foram
levados em conta depoimentos sobre a idoneidade do estuprador, dados por 170
testemunhos, sobretudo de maridos de pacientes. São as vozes masculinas
sobrepondo-se às denúncias das mulheres abusadas. E assombros dos assombros:
a sentença proferida - incômodo detalhe a ser suprimido - por uma juíza!"
("O caso Abdelmassih - Vai cair a casa do amo?").
Uma das vítimas do algoz declarou:* "A gente teve muito medo, foi uma
batalha muito grande, encontramos muitas portas fechadas, mas a satisfação é
tão grande de você ver o resultado da Justiça que vale a pena".
*Falta prendê-lo para libertar suas vítimas.
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